O seu filho tem ansiedade de separação?

Bebés e crianças
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Muitas crianças passam uma fase em que não querem deixar os pais. Veja como lidar com a ansiedade de separação e em que casos é mais grave.

São 8h30 da manhã e a criança está a chorar desalmadamente agarrada ao pescoço do pai ou da mãe. Dez minutos antes estava tranquilo no banco de trás do carro, mas assim que chegou à porta da sala na creche começou o pranto, mesmo que adore a educadora e os amigos. Este relato é comum à maioria das famílias com crianças pequenas, pois acaba por ser em ambiente escolar que a ansiedade de separação é mais notada por todos. Felizmente, na maioria dos casos é apenas uma fase que, como muitas outras, passa com a idade. Só em situações mais graves, e raras, é que se trata de um transtorno, que também pode manifestar-se em jovens ou adultos.



O que é a ansiedade de separação?

É a dificuldade de uma criança em lidar com o afastamento das pessoas que estão mais próximas no dia a dia, normalmente os pais, avós ou outros tutores. Chora, não quer largar a mão ou o colo, não quer sair do carro, não quer entrar na sala da escola. A ansiedade de separação é uma fase no desenvolvimento que começa normalmente antes do primeiro ano de vida e termina aos 3 anos, não significando isso que dure todo esse tempo.

Bebés que são colocados numa creche ou berçário com alguns meses de vida e que ficam tranquilos durante todo o dia, podem a qualquer momento passar por momentos em que têm uma crise de choro e não querem deixar os pais, estranham pessoas novas, ou não querem ir para o colo de outras que já conhecem bem. A não ser que tenham passado por algum acontecimento traumático, essa ansiedade de separação resulta do seu normal desenvolvimento e da noção de dependência e de segurança.

 

Sabia que...

A ansiedade de separação está associada ao reconhecimento da dependência de uma criança face aos pais ou outros, pelo que significa que têm um laço muito forte com a pessoa que não querem “largar”. Nem todas as crianças passam por essa fase, o que também é normal.

 

Quais são os sinais de ansiedade?

O choro repentino é a principal coisa a ser notada quando o bebé sofre de ansiedade de separação, que também pode surgir relativamente a algumas pessoas da família mais do que a outras. Outros sinais incluem:

  • Chorar quando os pais ou outra pessoa saem da sala;
  • Não querer largar a pessoa que o está a deixar na escola ou noutro local;
  • Agarrar-se com mais força em situações ou locais novos;
  • Medo de estranhos que se aproximam;
  • Preferência por um dos pais ou avós;
  • Pedir companhia para adormecer;
  • Acordar de noite a chorar e a chamar alguém em particular.

 

Como ultrapassar a ansiedade de separação?

Não são só as crianças que têm de lidar com esta fase, muitos pais ficam preocupados quando veem os filhos a chorar de repente. Passam por uma sensação de impotência e até de culpa que os chega a levar a hesitar em deixar as crianças na escola de manhã, ou a atrasarem essa entrega. Assim, o treino para ultrapassar a ansiedade de separação vale para os filhos, mas também para os pais. O objetivo principal é que tanto uns como os outros percebam que nada de mal vai acontecer: o pai ou mãe vão voltar dali a umas horas; o bebé vai acalmar-se e passar um bom dia com as outras crianças e com quem estiver a tomar conta dele. Há vários truques para que isso aconteça:

 

  • Treinar separações curtas

Deixar o bebé com um familiar ou alguém conhecido em casa durante alguns minutos, para testar o nível de ansiedade. Alargar gradualmente esse período e evoluir para outro local, como a casa dos avós.

 

  • Fazer uma despedida feliz e rápida

Sorrir, acenar e despedir-se com confiança. Transmitir felicidade nesse momento, mas tentar que seja rápido. Se a criança sentir tensão ou nervosismo na despedida, pode ficar ansiosa e começar a chorar.

 

  • Deixar um objeto familiar

O peluche, o doudou ou a fralda de pano que vai no carrinho e fica com os bebés não é apenas um objeto pessoal. É algo que associam a casa e chega a ter um cheiro familiar, o que ajuda a tranquilizar.

 

  • Não desaparecer de repente

Aproveitar um momento em que a criança vira costas para ir embora é tentador, mas por vezes tem um efeito contrário. Pode provocar reações de ansiedade nas situações mais simples, como ir à cozinha e voltar, ou sair do carro mesmo que seja para abrir a porta da criança.

 

  • Tentar explicar a ausência

É difícil para uma criança perceber o que é um emprego ou um dia de trabalho, mas é sempre bom explicar por que se vai estar fora e quanto tempo. Mais tarde vão entender melhor. Um truque para dar a noção de tempo passa por usar conceitos que percebam, como “depois do almoço” ou “depois da sesta”. 

 

  • Falar de atividades a fazer depois

Para crianças um pouco mais crescidas, que já sabem o que é uma loja, um supermercado, um café ou um parque, dizer o que se vai fazer depois do infantário ajuda na despedida da manhã. Ficam entusiasmadas com essas atividades do fim do dia e aceitam melhor a saída dos pais.

 

A ansiedade de separação pode voltar?

Sendo uma fase do desenvolvimento que desaparece normalmente antes dos 3 anos, quando ainda faltam muitos anos para o pleno desenvolvimento físico e psicológico da criança, é possível - e normal - que a ansiedade de separação se manifeste em situações esporádicas, muito específicas. Momentos de stress ou acontecimentos inesperados podem motivar episódios de ansiedade, principalmente quando a criança ou jovem cresceu num ambiente muito protegido, sem grande autonomia:

  • A chegada de um irmão mais novo;
  • Uma nova sala ou escola;
  • Um novo educador ou pessoa que toma conta;
  • Mudar de casa;
  • Perda de um pai ou de outro familiar;
  • Ausências longas de alguém próximo, como trabalho longe ou viagens constantes;
  • Cansaço, fome ou doença;
  • Divórcio dos pais.

 

Quando contactar um médico?

A ansiedade de separação não deve ser motivo de preocupação e sofrimento parental. Aliás, a reação preocupada dos pais pode exacerbar essas mesmas crises de choro e ansiedade por parte dos filhos. Por outro lado, em determinados casos, as manifestações de ansiedade podem ser sinais de uma situação mais complexa, que requer terapia ou tratamento médico, o transtorno de ansiedade de separação. Esse distúrbio pode começar em idade pré-escolar, mas também surge em jovens e adultos.

Nas crianças, se a ansiedade de separação já dura há várias semanas, sem melhorias e com um efeito negativo na aprendizagem e no bem-estar da criança e de quem está à volta, o melhor é contactar o pediatra. Nestes casos mais graves, o episódio de ansiedade chega a começar ainda em casa e o choro pode ser acompanhado da sensação de dor de cabeça ou estômago. É também possível que a criança sofra com pesadelos e terrores noturnos, e tenha um medo irracional de que o pai ou mãe desapareça, ou ela própria.

De uma forma geral, entende-se como uma ansiedade de separação comum quando as crises de choro ou receio são consideradas normais para a idade. Quando o receio e outros sintomas manifestados são excessivos para a idade ou desenvolvimento intelectual, poderá tratar-se de um transtorno de ansiedade de separação.

Fontes:

Cleveland Clinic, fevereiro de 2023
Mayo Clinic, fevereiro de 2023
Medical News Today, fevereiro de 2023
MedlinePlus, fevereiro de 2023
NHS, fevereiro de 2023

Publicado a 24/04/2024